Álvaro Melo (Vavá Melo)
Waldemiro Antônio Bacelar Viana
O grande Pitigrili, um dos escritores preferidos de
minha geração , escreveu: as coisas são como são, e não como se
vê. Nessa visão têm motivos os que dizem que eu
mando na Academia. Maldosos mendazes. Sou apenas um
cabo cerra-fila, cumpridor de ordens, gladiador intimorato
das causas que engrandecem minha terra. Nossa confraria é
uma delas, a maior delas.
Senhores, muitos me têm escolhido para recebê-los.
Alegre missão, tantas vezes difíceis. Fruto de respeitosa
amizade, desprovida de interesses pessoais.
De minhas poucas virtudes uma é saber,
desinteressado, aproximar-me de pessoas
meritórias, companhias que me elevam. Mais um exemplo.
Conheci o ilustre Dr. Waldemiro quando
passava frente da quitanda de papai, andar ligeiro,
empinado, sempre com um pacote às mãos, rumo ao Porto de Dona
Chiquinha. Já era amigo de seu irmão Durval.
A admiração nasceu ao encontrar na antiga Rodoviária
de São Luís, um livro intitulado Graúna em Roça
de Arroz. Dois motivos seduziram-me a
comprá-lo: o autor e o assunto. Foi o primeiro romance que
li de autoria de um jovem. Gostei imensamente. Previ, naquele
instante, que autor despontava, com o
brilho de sua inteligência para o trono da
glória, da consagração. Que intuição. Na volta a São
Luís, fui parabenizar o Dr. Fernando, a quem
costumava visitá-lo.
Confrade Waldemiro, Nena querido, essa
despertada amizade estar alicerçada
no apreço dos nossos antepassados.
Papai e o tio Agnelo foram colegas de
dona Lourdes, no curso primário em Macapá, alunos de Maroca
Guimarães. Compadre de Fernando Viana. Meu avô Joaquim
Ribeiro, amigo dos seus. Íntimos seus tios Clóvis
Couto Bacelar, interventor de S. Bento, e o padre Alfredo Bacelar.
Senhores confrades, confreiras e convidados,
permitam-me apresentar-lhes Waldemiro Antônio Bacelar
Viana. Descende ele de duas tradicionais e honradas
famílias são-bentuenses: Viana e Lobato, esta
umas das mais antigas. Teve por patriarca Filipe Néry Lobato.
Muitos seus filhos, todos renomados. Citarei somente
os mais insignes
alcantarenses/são-bentuenses: Raimundo Felipe Lobato,
nosso primeiro desembargador, conselheiro e deputado provincial, o 14º
governador do Maranhão; arcediago cônego Antônio Lobato Araújo, também
deputado provincial. Sem desperdiçar oportunidades de
louvar a grandeza do passado são-bentuense, lembro-lhes de
que esse cônego, com o mestre-escola Luís
Raimundo Costa Leite (duas vezes bispo interino) e Fabricio
Alexandrino Costa Leite (uma vez), integraram, concomitante, o
cabido diocesano do Maranhão. Voltando aos Lobatos, a
figura de Vitor, fundador de a Pacotilha,
vulto emblemático da imprensa maranhense. Sobre ele, continuo a
pesquisar. Espera-te aqui, a confreira Lourdes Lobato
França
Waldemiro nasceu em São Luís, a 24 de julho de 1946. Septuagenário, há
pouco festejado. Alma jovem e boêmia. Filho de
Fernando Ribamar Viana e Maria de Lourdes Bacelar
Viana, professora nomeada pelo decreto de 12 de abril de
1933, diretora do 1º Jardim de Infância de S. Bento,
criado por Luís Viana, quando Diretor da Instrução Pública do Estado.
Avós paternos Manuel Ferreira Viana e Ana Lobato
Viana. Materno – Alfredo Couto Bacelar, deputado estadual, e Ana
Carolina de Lima Couto, residentes em São Bento a
partir na década de 1920.
Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de São Luís.
Advogado, militou no foro de São Luís.
Exerceu as funções públicas de assessor
administrativo da Sanel –; relações públicas da Caema –
assessor jurídico da Cimparn – diretor da Divisão de
Serviços Patrimoniais da UFMA; diretor técnico da Comarco –
diretor administrativo e financeiro da Cohab-MA; assessor da
presidência do Iterma – advogado do Ineb e do Projeto Radam
– Brasil, em Salvador.
De volta para São Luís em 1985, exerceu as funções de
diretor-executivo da Fundação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento
da Universidade Federal do Maranhão, diretor do Departamento de
Assuntos Culturais da UFMA; assessor especial do Reitor da UFMA;
assessor do Secretário de Fomento à Indústria e ao Comércio do Estado
do Maranhão; chefe de Gabinete da Secretaria de Agricultura do Estado
do Maranhão; assessor de desembargador do Tribunal de Justiça do Estado
do Maranhão.
Foi membro titular do Conselho Estadual de Cultura do
Maranhão; do Conselho Universitário da UFMA; do Conselho
Administrativo da Emater. Conselho Curador da Fundação José Sarney.
Integrou o quadro de pessoal permanente do Tribunal de Justiça do
Estado do Maranhão. Agraciado com a Medalha do Mérito Timbira, no grau
Oficial; Medalha João Lisboa, pelos relevantes serviços prestados à
Cultura, outorgada pelo Conselho Estadual de Cultura do Maranhão.
Autor de notável trabalho na imprensa de São Luís,
notadamente crônicas e artigos, enfatizando os
romances Graúna em roça de arroz: Sotaque Norte, a
questionável amoralidade de Apolônio Proeza: O mau
samaritano. A tara e a toga. O pulha fictício;
de passarela do centenário & outros perfis (sonetos). Maria
Celeste – da Terra e do Mar.
Dessas obras primas, duas por terem parte da
ambiência em nosso município, tocam sentimentalmente n’alma
dos leitores são-bentuenses, o que revela o quanto
este chão bento de São Bento faz parte da ternura do autor,
nascida da admirável beleza bucólica do Inambu. Primeiro,
em Graúna em roça de arroz
são figurantes Zé Beiçola, cigarreiro Zé
Bacarau, Zé do Bule, barqueiro Melquiades e
outras pessoas e autoridades de nomes trocados.
Recente, em seu primoroso Maria Celeste, essa brava
personagem chega a São Bento, montada a cavalo e para
reencontrar-se com seu verdadeiro amor, retorna
no barco Cruzeiro de São Bento, propriedade do mestre Cabacinha.
Essa herança romancista é da grei dos Lobatos.
Seu tio bisavô, o são-bentuense João Clímaco, autor
dos romances o Diabo, o primeiro publicado em S.
Luís, 1856; o rancho de Pai Tomé e o cego de Pojucã, A cigarra
brasileira, O Mistério da Vila de São Bento, este o primeiro romance
urbano maranhense.
Waldemiro Viana, intelectual de mancheia, avulta-se
como emérito romancista, o que honra nossa Academia e a
Maranhense, por ser o imortal coestaduano com volumosa
produção no gênero. Essa veia literária, ressalta-se,
jubilemos, é apanágio pujante medrado no íntimo dos que
conviveram com a paisagem inspiradora dos nossos
campos e a salubridade climática desta Suíça
Maranhense. Com sua
chegada à
nossa Academia encontrou Itapary, Sanatiel, Mirian e
Trindade, o que quiçá seja na FALMA, a que mais tenha
romancistas/novelistas. Aliam-se a estes, os
possuidores de sangue da terra de Dom Luís de Brito: José
Sarney, Ronald Costa Fernandes e Américo Azevedo a
publicar. Todos, filhos de são-bentuenses.
Waldemiro por vivência e paixão, exulta-se de
ser nosso conterrâneo afim, sobretudo a partir de agora por
justa cidadania. Por mais de dez anos residiu na
majestosa Fazenda São José do Canaã, no Inambu, em
Palmeiras quando distrito pertencente ao município de
São Bento. Mansão de intelectuais, pais, filhos,
familiares. Foi, deveras, a primeira Academia de Letras da Baixada.
Waldemiro sempre externou amor e admiração por esta
Confraria. Acostumou-se abrilhantá-la com palestras em nossos
encontros aqui e em São Luís. A contundência desse carinho
materializou-se ao aceitar o convite para ser mais um
cavaleiro da Távola Redonda, estripada da Cadeira
Proibida. Sua eleição é uma homenagem que se estende
ao Dr. Fernando Viana, um dos mais completos literatos de seu
tempo e a dona Lourdes, poetisa das mais ilustradas.
Este sodalício sente-se feliz, radiante e deslumbrado
por possuíres todos os méritos substanciais de
engrandecê-lo. Assuma a Cadeira 2,
patroneada por Carlos Reis, insigne personalidade nascido
nesta terra; fundada por Manuel de Jesus Sousa, nosso
querido e extraordinário abnegado membro desta
Casa. Muito contribuiu para o desenvolvimento dela.
Honrando-se estão aqui, seus filhos LiIana e James.
Reflitam: Waldemiro também é ocupante 2 da Academia
Maranhense de Letras, patroneada por Aluísio Azevedo, irmão do nosso
conterrâneo Américo Azevedo, cunhado de dona Maria Eugênia Padilha
Lobato; fundada pelo são-bentuense Domingos Barbosa, sucedido por
Fernando Viana. Tomou posse nela a 31 de outubro de 1984,
homenagem póstuma aos oitenta anos seu pai. Outra:
Waldemiro nasceu no ano de morte do patrono da Cadeira que ora ocupa.
Ilustre confrade, quando adentraste na Casa de
Antônio Lobo ouviste de Américo Azevedo: Waldemiro é
presença, é futuro, é marcha acontecendo. Repito.
Nobre confrade, o instante se assemelha, apenas
trocando os personagens, eu uso das
palavras de seu tio, o médico, professor, jornalista,
cientista Luís Viana ao saudar o aniversariante Clodomir Cardoso,
este aqui gozava férias na infância com os
familiares, expressou-se: “sois um nobre filho de Athenas; um
atheniense como os de outrora, assíduo frequentador dos jardins
fragrantes de Academus, onde passeando entre flores, os
sábios colhiam rosas delicadas do espírito”. São Bento é um
jardim de Academus. Com sua esposa Yara Maria, filhos
Carlos Fernando, Ana Raquel, Cleidyara , os netos Manuela,
Gabriel, Isabela, Maria Beatriz e Artur, adentreis neste
jardim, regais os canteiros e aspirais o
perfume exalado das estrelas, rosas, jasmins.
Termino usando as conhecidas palavras que Manuel
Bandeira pôs na boca do Pedro bonachão, falando no
céu a Irene. Em vez dela, Waldemiro – você não precisa
de pedir licença. Entre. A canoa atracou no porto de
dona Chiquinha. Estrugem os foguetes de taboca, as girândolas e
as ronqueiras. Bem vindo à Casa de Dom Felipe, catedral das
letras, do afeto, da harmonia e do respeito. Engrandeça-a.
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Contato: Academia Sambentuense
E-mail: academiasambentuense@hotmail.com
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