São Bento e sua Cultura
 

  São Bento, desde os primórdios, participou ativamente nas artes e literatura do Estado. Em 1854, o francês Antonio Alexandre Bucello constituiu um pequeno teatro que teve vida curta. Mas, em 1865, o Dr. Benedito de Barros, João Novais, João Miguel e o major Antonio Raimundo fizeram uma sociedade teatral com o nome de Recreio Dramático.
Os amantes das letras tiveram a idéia de escrever, a mão, um pequeno jornal, O São Bento, que durou 9 edições. Destas, somente três foram datilografadas. Depois do São Bento, surgiram outros jornais, entre eles, O Luz, também escrito manualmente. Em seguida, veio O Laço, jornalzinho humorístico redigido pelos jovens Sarney  Costa, Antonio Carvalho e Ivan Araújo. O município se tornou um celeiro cultural, surgindo inúmeros outros jornais, teatros e manifestações culturais.
(*)

  Berço de grandes personalidades que, ao longo de suas vidas, foram e são considerados referências culturais com grandes legados deixados e ainda em construção. São Bento se destaca entre as demais devido a uma cultura rica de traços fortes e marcantes. Representada por brincadeiras tradicionais como as Batucadas e Tribos de Índios que as duras penas vão sendo passadas por gerações. Tradições como o ritual das caixeiras no tambor de caixa, as festas de cura nos terreiros da cidade, a renda de bilro pouco encontrada mais ainda ensinada pela mãe à filha e a tão famosa rede de linha.   
A cultura local sempre se mostrou mais um dos belos atrativos que a cidade tem a oferecer.

São Bento apresenta uma enorme diversidade cultural e entre os festejos podemos destacar: Os grandes bailes carnavalescos que são hoje revividos pelo já tradicional baile à fantasia "Recordar é viver" organizado por Eklande Aroucha, que antecipa o carnaval; e realizado naquele que foi um dos mais respeitados e frequentados clubes sociais: o Casino São-bentuense. Outra festa importante (considerada cartão postal da cidade) é a festa do Remedinho, em homenagem a nossa Senhora dos Remédios. Além desse festejo, também são realizados outros dentre os quais os de São Roque, São Judas, São Benedito, São Bento, Nossa Senhora da Conceição e São Sebastião. Na noite de lua cheia do mês de agosto, contemplamos esse astro ao som de uma boa cantata de seresta realizada no bairro Outra Banda, a já famosa Luarada, idealizada por José Ribamar Ferreira, mais conhecido como Zé 25 em 1989, e a parti daí todos os anos, no mês de Agosto, nas noites de lua cheia, tornando-se tradição no município. Porém, ultimamente tem-se percebido que as Luaradas estão perdendo a sua marca, pois, devido ao Festejo de São Roque que ocorre no dia 16 de Agosto, período que coincide com a lua cheia, não ocorre a Luarada concomitantemente. 

  Presença sempre marcante as “Tribos de Índios” nos carnavais do Maranhão devem-se à presença de militares dos Estados Unidos no aeroporto Tirirical, nos idos de 1945, por ocasião da 2ª Guerra Mundial. Servia de ponte para a base aérea de Recife (PE), portavam rolos de filmes faroestes de Hollywood que se popularizaram na nossa capital, fixando-se nos carnavais, adentrando subsequente, por imitação, na folia são-bentoense. Outro fato que somou reforço em São Bento, foram as influências dos filmes com índios norte-americanos apaches, sioux, comanches e pawnes, exibidos no cinema da Paroquial, no limiar dos anos 60, Joan Borges, João Cássia, João Muniz, Mozart Trinta, “Zé Maria Bolor”, “Baú de João Pretinho”, entre outros, introduziram essa manifestação festiva em nossa terra. Os ensaios eram realizados na antiga rua Ribeiro Gonçalves, no quintal da casa de dona Mundoquinha, mãe do comerciante João Lourenço Nunes, entre a praça Carlos Reis e o bairro São Judas. Registra-se, por oportuno, que Joan Borges, filho de Zé Borges e Dona Amália (parteira) foi o melhor carnavalesco de todos os tempos de São Bento, era impossível falar em carnaval, sem associar as alegrias desse conterrâneo, que hoje, vive ao desprezo da sociedade em seu pequeno cômodo, na rua Carneiro de Freitas, ao lado do Casino Sambentuense. A trombose atirou-lhe para a cama e para as bengalas. De São Luís e São Bento, a brincadeira se propagou para outros cantos do Brasil, expostos ao chão mesmo. (**)

Hoje em processo de extinção, as batucadas tinham importância tão grande que, as pessoas que as recebiam, sentiam-se honradas e serviam os melhores licores (de jenipapo, maracujá). Por volta da década de 60 havia vários grupos de Batucadas que tinham como responsáveis Nhô Nhô Bagre, no bairro Porto Grande; Joãozinho Teba, no bairro Matriz; Zé Rabêlo, no bairro Outra Banda; Chibé, no bairro Tupy; João Goma, no Areal e Família Pavão, no Alegre. As batucadas entravam nas casas com bandeiras cheias de fitas amarradas para que as pessoas que ali se encontravam  amarrassem a "jóia" (dinheiro para custear as despesas do grupo), e entre os grupos de batucadas; havia uma grande disputa de zabumba, das roupas de seda e bandeira mais bonita. Uma das casas mais visitadas era a do Sr. João Pachêco, por possuir um considerável poder aquisitivo (retiro com muitos porcos), além da casa de Zé de Abacaxé. (***)

  Na década de 1990, ainda havia várias pessoas que puxavam ladainhas, rezas e preces. São registradas simpatias, crendices e rezas contra mau olhado, contra dor de cabeça, maus espíritos, além de outras. A medicina popular também dá mostras do profundo conhecimento de ervas, folhas, frutos, arbustos e sementes usados para tratar inflamações, verminoses, insônia, gripes etc. Como exemplo da presença desses códigos, cito a prece para chover: “Santa Bárbara’ dona d’água, esse verão é que nos acaba, vem nos valer, não deixai morrer de fome e sede”.  Outro exemplo da manipulação desses códigos pode ser visto na oração a São Bento (contra inflamações, erisipelas e febre):
“Pai Celeste, pelos méritos de São Bento, afastai de mim o mal que me aflige. O nome do bem aventurado São Bento é abençoado eternamente. São Bento tudo obterá de vossa bondade e justiça. Pelas suas preces, afaste-me São Bento de tudo quanto vos ofenda, Senhor, Deus. Obtenha São Bento para mim as graças de vossa providência. São Bento, protegei-me dos ataques do demônio. São Bento, protegei-me das moléstias e males imprevistos. São Bento, curai-me com a permissão de Deus Nosso Pai (rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria)”
A religiosidade no município de São Bento é mostrada de forma intensa e, por um mundo mágico povoado por seres sobrenaturais. Um pouco dessa acepção pode ser depreendida do texto da sentinela cantada em São Bento e transcrita por Moreira (1995, p. 40-41):  

I Uma incelência da virgem da Conceição Meu Deus, não permitai Que eu morra sem confissão 

II Os anjos se alegram Como Deus se alegrou de ver aquela senhora que no céu se achou 

III Oferecemos este bendito  com toda alegria É da Virgem Maria  

IV Oferecemos este bendito com toda alegria Às doze incelenças da Virgem da Conceição V Ofereço este bendito Com Deus e amor às doze incelenças É do nosso Senhor

(*) Fonte: Livro São Bento dos Peris: água e vida volume I; escrito por Álvaro Urubatan Melo (Vavá Melo), Editora: Academia Sambentuense
(**) Fonte: Livro Oratório da Palmeira ainda a ser lançado por Josué Campos
(***) Relatos da Senhora Maria da Luz Rabêlo Lopes (Pininha)



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